domingo, 28 de fevereiro de 2010

REVOLUÇÃO FRANCESA: INTRODUÇÃO

APROFUNDAMENTO

A REVOLUÇÃO FRANCESA


A Revolução Francesa ocorre em 1789, sob a influência da revolução norte-americana, isto é, a revolta das treze colônias inglesas da Costa Leste da América do Norte contra sua metrópole, entre 1776 e 1783. Ela deu origem aos Estados Unidos de hoje. Diferentemente da revolta, a revolução muda o curso da história em um país.

Os revolucionários deram o nome de “Antigo Regime” ao mundo que eles haviam destruído. Esse Antigo Regime era o reino da França, uma monarquia sob o reinado de Luís XVI e de sua esposa, Maria Antonieta. O rei não conseguiu manter seus ministros competentes, nem defender as reformas propostas por eles. Isso porque havia uma forte resistência por parte dos privilegiados.

Na França do Antigo Regime não havia igualdade; a sociedade estava dividida em ordens, que tinham mais ou menos privilégios:


 O clero, a Igreja Católica, a única legítima.


 Os aristocratas, que compunham a ordem da nobreza. As reivindicações dos nobres tinham origem na época medieval do feudalismo. Os senhores haviam conservado direitos honoríficos, sua própria justiça, seus lugares na igreja e o direito de caça.

Os camponeses, como tinham de aguentar quase todo o peso dos imposto reais, sofriam muito com as humilhações. Eles se mobilizavam para defender seus direitos, que os nobres tinham a tendência de usurpar. Nas épocas de escassez, protestavam contra o alto preço do pão. Tanto para os operários das cidades quanto para os camponeses, o pão era o principal alimento, consumindo metade do salário diário de uma família.

O trigo para fazer o pão era uma necessidade básica: bastava o tempo provocar uma ou várias colheitas ruins para que o preço disparasse, a miséria se instalasse e a revolta explodisse; é o que se chama de “agitação popular”.

Os camponeses representavam três quartos (¾) da população e compunham o chamado Terceiro Estado. Deste participavam também os habitantes das cidades: mendigos, trabalhadores, comerciantes, banqueiros, profissionais liberais, etc.

O século XVIII ficou conhecido como o Século das Luzes, Iluminismo. Vozes importantes se fizeram ouvir da Inglaterra à Alemanha. Na França, Montesquieu, Voltaire, Rousseau, Diderot fizeram ressoar a voz da filosofia contra a intolerância religiosa e em defesa das liberdades, contra o arbítrio do absolutismo e em defesa de um regime político em que os cidadãos, protegidos por uma Constituição, participam da administração do Estado.

Não foi a miséria que fez a revolução, foi a vontade daqueles cujo papel e riqueza os impeliam a assumir seu verdadeiro lugar na sociedade, os burgueses.

A revolução camponesa irá convergir, ao menos durante certo tempo, com a dos burgueses das cidades.

Por que aconteceu a revolução?

O rei Luís XVI era um monarca absoluto: consagrado na catedral de Reims, era o escolhido de Deus. Em meio aos cortesãos do Palácio de Versalhes, ele era a encarnação da lei, e os ministros só obedeciam sua vontade. A Igreja Católica estava associada a seu poder e as outras religiões eram proibidas.

Os tributos recaíam basicamente sobre o Terceiro Estado: a talha era o único tributo direto, enquanto a capitação, estabelecida em 1695, recaía sobre todos os indivíduos de todas as ordens. Ao lado desses tributos diretos, havia os impostos que o rei arrecadava sobre diversos tributos: o mais impopular, a gabela, era aplicada ao sal.

Não havia geladeira no tempo de nossos antepassados. Eles só dispunham de sal para conservar a carne e outros alimentos. É preciso mencionar o dízimo que o clero usava. A monarquia não tinha previsões rigorosas de gasto, orçamento: dessa forma, o próprio rei podia lançar mão diretamente dos impostos para atender às necessidades de seu padrão de vida e do da corte de Versalhes. Dizia-se que a rainha Maria Antonieta era uma perdulária.O luxo dos privilegiados era uma ofensa à miséria dos pobres. A isso vem se somar, nos anos 1770 – 1780, a guerra de independência das colônias inglesas da América, que contou com o apoio do rei da França...

Esse apoio saiu muito caro. O prejuízo era tão grande que todo o sistema tinha de ser inteiramente modificado.

O rei não apoiou os ministros que lhe propunham uma reforma profunda das instituições. Estes esforços esbarraram na oposição dos privilegiados: da corte e dos príncipes – irmãos e parentes do rei.

Ao pedir ao rei a convocação dos Estados Gerais para resolver o problema das reformas, o parlamento de Paris caiu naquilo que se tornaria sua própria armadilha, surgiu uma grande esperança: o país iria ser ouvido...

Reunir os Estados Gerais era um modo antigo de o rei consultar os representantes das três ordens: fazia mais de dois séculos que ocorrera a última reunião. Os franceses foram estimulados a redigir cadernos de dolências (queixas) por todo o país.

Nessa altura dos acontecimentos os súditos ainda amam o rei, que é visto como uma espécie de pai, mas eles denunciam os abusos da administração e os direitos senhoriais; não se importam de pagar imposto, mas exigem o direito de controlá-lo por meio de seus representantes, e reivindicam o respeito pelas liberdades e o fim do arbítrio...

Os membros do Terceiro Estado tinham conseguido, com o rei e o ministro Necker, o direito de ter o mesmo número de deputados que as duas ordens privilegiadas juntas (com a intenção de garimpar votos entre os padres ou os nobres liberais, que os havia), o que lhes dava a maioria... O rei, a corte e os privilegiados não interpretavam a coisa da mesma maneira, e queriam que cada ordem ficasse separada; nessas condições o Terceiro Estado só tinha um terço dos votos.

O rei repreende os deputados e quer retirá-los do salão; um dos oradores do Terceiro Estado, o já famoso Mirabeau, lhes responde: “Estamos aqui pela vontade do povo, e só sairemos com a força das baionetas”. No dia seguinte os deputados encontram as portas fechadas. Eles “invadem” uma sala ao lado e fazem um juramento de não se dispersar antes de obter uma Constituição. OS deputados do Terceiro Estado proclamaram-se Assembléia Nacional, depois Assembléia Nacional Constituinte. Em seguida o rei concordou que as ordens participassem juntas da Assembléia. Nesse meio tempo, contudo, ele reuniu tropas em torno da capital, onde o povo se mobilizava para defender os deputados em Versalhes. Ao demitir o ministro Necker no dia 11 de julho, a revolta estourou. Em busca de armas, no dia 14 de julho os parisienses invadiram a Bastilha, antiga fortaleza medieval que se tornara uma prisão do Estado.

É lá que o rei prendia sem julgamento aqueles que o contrariavam. Ela se tornara o símbolo da arbitrariedade do rei.


Em grande pânico se espalha em todo o país: foi o chamado Grande Medo. Um boato se espalha pelas aldeias: os bandidos estão chegando. Que bandidos? Pouco importa, o povo arma-se e passa adiante o rumor... O rei dirige-se à Paris, onde o prefeito lhe dá uma nova insígnia, rodeando o branco da monarquia com azul e vermelho, cores da cidade de Paris. Era o prenúncio de uma monarquia constitucional.

Referência bibliográfica:
VOVELLE, Michel. A revolução francesa explicada à minha neta. São Paulo: UNESP, 2007

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