domingo, 28 de fevereiro de 2010

REVOLUÇÃO FRANCESA: INTRODUÇÃO

APROFUNDAMENTO

A REVOLUÇÃO FRANCESA


A Revolução Francesa ocorre em 1789, sob a influência da revolução norte-americana, isto é, a revolta das treze colônias inglesas da Costa Leste da América do Norte contra sua metrópole, entre 1776 e 1783. Ela deu origem aos Estados Unidos de hoje. Diferentemente da revolta, a revolução muda o curso da história em um país.

Os revolucionários deram o nome de “Antigo Regime” ao mundo que eles haviam destruído. Esse Antigo Regime era o reino da França, uma monarquia sob o reinado de Luís XVI e de sua esposa, Maria Antonieta. O rei não conseguiu manter seus ministros competentes, nem defender as reformas propostas por eles. Isso porque havia uma forte resistência por parte dos privilegiados.

Na França do Antigo Regime não havia igualdade; a sociedade estava dividida em ordens, que tinham mais ou menos privilégios:


 O clero, a Igreja Católica, a única legítima.


 Os aristocratas, que compunham a ordem da nobreza. As reivindicações dos nobres tinham origem na época medieval do feudalismo. Os senhores haviam conservado direitos honoríficos, sua própria justiça, seus lugares na igreja e o direito de caça.

Os camponeses, como tinham de aguentar quase todo o peso dos imposto reais, sofriam muito com as humilhações. Eles se mobilizavam para defender seus direitos, que os nobres tinham a tendência de usurpar. Nas épocas de escassez, protestavam contra o alto preço do pão. Tanto para os operários das cidades quanto para os camponeses, o pão era o principal alimento, consumindo metade do salário diário de uma família.

O trigo para fazer o pão era uma necessidade básica: bastava o tempo provocar uma ou várias colheitas ruins para que o preço disparasse, a miséria se instalasse e a revolta explodisse; é o que se chama de “agitação popular”.

Os camponeses representavam três quartos (¾) da população e compunham o chamado Terceiro Estado. Deste participavam também os habitantes das cidades: mendigos, trabalhadores, comerciantes, banqueiros, profissionais liberais, etc.

O século XVIII ficou conhecido como o Século das Luzes, Iluminismo. Vozes importantes se fizeram ouvir da Inglaterra à Alemanha. Na França, Montesquieu, Voltaire, Rousseau, Diderot fizeram ressoar a voz da filosofia contra a intolerância religiosa e em defesa das liberdades, contra o arbítrio do absolutismo e em defesa de um regime político em que os cidadãos, protegidos por uma Constituição, participam da administração do Estado.

Não foi a miséria que fez a revolução, foi a vontade daqueles cujo papel e riqueza os impeliam a assumir seu verdadeiro lugar na sociedade, os burgueses.

A revolução camponesa irá convergir, ao menos durante certo tempo, com a dos burgueses das cidades.

Por que aconteceu a revolução?

O rei Luís XVI era um monarca absoluto: consagrado na catedral de Reims, era o escolhido de Deus. Em meio aos cortesãos do Palácio de Versalhes, ele era a encarnação da lei, e os ministros só obedeciam sua vontade. A Igreja Católica estava associada a seu poder e as outras religiões eram proibidas.

Os tributos recaíam basicamente sobre o Terceiro Estado: a talha era o único tributo direto, enquanto a capitação, estabelecida em 1695, recaía sobre todos os indivíduos de todas as ordens. Ao lado desses tributos diretos, havia os impostos que o rei arrecadava sobre diversos tributos: o mais impopular, a gabela, era aplicada ao sal.

Não havia geladeira no tempo de nossos antepassados. Eles só dispunham de sal para conservar a carne e outros alimentos. É preciso mencionar o dízimo que o clero usava. A monarquia não tinha previsões rigorosas de gasto, orçamento: dessa forma, o próprio rei podia lançar mão diretamente dos impostos para atender às necessidades de seu padrão de vida e do da corte de Versalhes. Dizia-se que a rainha Maria Antonieta era uma perdulária.O luxo dos privilegiados era uma ofensa à miséria dos pobres. A isso vem se somar, nos anos 1770 – 1780, a guerra de independência das colônias inglesas da América, que contou com o apoio do rei da França...

Esse apoio saiu muito caro. O prejuízo era tão grande que todo o sistema tinha de ser inteiramente modificado.

O rei não apoiou os ministros que lhe propunham uma reforma profunda das instituições. Estes esforços esbarraram na oposição dos privilegiados: da corte e dos príncipes – irmãos e parentes do rei.

Ao pedir ao rei a convocação dos Estados Gerais para resolver o problema das reformas, o parlamento de Paris caiu naquilo que se tornaria sua própria armadilha, surgiu uma grande esperança: o país iria ser ouvido...

Reunir os Estados Gerais era um modo antigo de o rei consultar os representantes das três ordens: fazia mais de dois séculos que ocorrera a última reunião. Os franceses foram estimulados a redigir cadernos de dolências (queixas) por todo o país.

Nessa altura dos acontecimentos os súditos ainda amam o rei, que é visto como uma espécie de pai, mas eles denunciam os abusos da administração e os direitos senhoriais; não se importam de pagar imposto, mas exigem o direito de controlá-lo por meio de seus representantes, e reivindicam o respeito pelas liberdades e o fim do arbítrio...

Os membros do Terceiro Estado tinham conseguido, com o rei e o ministro Necker, o direito de ter o mesmo número de deputados que as duas ordens privilegiadas juntas (com a intenção de garimpar votos entre os padres ou os nobres liberais, que os havia), o que lhes dava a maioria... O rei, a corte e os privilegiados não interpretavam a coisa da mesma maneira, e queriam que cada ordem ficasse separada; nessas condições o Terceiro Estado só tinha um terço dos votos.

O rei repreende os deputados e quer retirá-los do salão; um dos oradores do Terceiro Estado, o já famoso Mirabeau, lhes responde: “Estamos aqui pela vontade do povo, e só sairemos com a força das baionetas”. No dia seguinte os deputados encontram as portas fechadas. Eles “invadem” uma sala ao lado e fazem um juramento de não se dispersar antes de obter uma Constituição. OS deputados do Terceiro Estado proclamaram-se Assembléia Nacional, depois Assembléia Nacional Constituinte. Em seguida o rei concordou que as ordens participassem juntas da Assembléia. Nesse meio tempo, contudo, ele reuniu tropas em torno da capital, onde o povo se mobilizava para defender os deputados em Versalhes. Ao demitir o ministro Necker no dia 11 de julho, a revolta estourou. Em busca de armas, no dia 14 de julho os parisienses invadiram a Bastilha, antiga fortaleza medieval que se tornara uma prisão do Estado.

É lá que o rei prendia sem julgamento aqueles que o contrariavam. Ela se tornara o símbolo da arbitrariedade do rei.


Em grande pânico se espalha em todo o país: foi o chamado Grande Medo. Um boato se espalha pelas aldeias: os bandidos estão chegando. Que bandidos? Pouco importa, o povo arma-se e passa adiante o rumor... O rei dirige-se à Paris, onde o prefeito lhe dá uma nova insígnia, rodeando o branco da monarquia com azul e vermelho, cores da cidade de Paris. Era o prenúncio de uma monarquia constitucional.

Referência bibliográfica:
VOVELLE, Michel. A revolução francesa explicada à minha neta. São Paulo: UNESP, 2007

A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

APROFUNDAMENTO

A revolução Industrial



A revolução industrial não foi um episódio com um princípio e um fim. A mudança revolucionária se tornou norma desde então. Este foi provavelmente o mais importante acontecimento na história do mundo, pelo menos desde a invenção da agricultura e das cidades.

“revoluções” no sentido de que um grande aumento repentino e inesperado de aplicações tecnológicas transformou os processos de produção e distribuição, criou uma enxurrada de novos produtos e mudou de maneira decisiva a localização das riquezas e do poder no mundo, que, de repente, ficaram ao alcance dos países e elites capazes de comandar o novo sistema tecnológico.

A primeira Revolução Industrial, apesar de não se basear em ciência, apoiava-se em um amplo uso de informações, aplicando e desenvolvendo os conhecimentos preexistentes. E a segunda Revolução Industrial, depois de 1850, foi caracterizada pelo papel decisivo da ciência ao promover a inovação.

O que caracteriza a atual revolução tecnológica não é a centralidade de conhecimentos e informação, mas a aplicação desses conhecimentos e dessa informação para a geração de conhecimentos e de dispositivos de processamento/comunicação da informação, em um ciclo de realimentação cumulativo entre inovação e uso. Aprender usando, os usuários aprenderem a tecnologia fazendo. As novas tecnologias da informação não são simplesmente ferramentas a serem aplicadas, mas processos a serem desenvolvidos. Usuários e criadores podem tornar-se a mesma coisa.

Tecnologia – uso de conhecimentos científicos para especificar as vias de se fazerem as coisas de uma maneira reproduzível.

A primeira começou pouco antes dos últimos trinta anos do século XVIII, caracterizada por novas tecnologias como a máquina a vapor, a fiadeira e, de forma mais geral, a substituição das ferramentas manuais pelas máquinas; a segunda, aproximadamente cem anos depois, destacou-se pelo desenvolvimento da eletricidade, do motor de combustão interna, de produtos químicos com base científica, da fundição eficiente de aço e pelo início das tecnologias de comunicação, com a difusão do telégrafo e a invenção do telefone. Os conhecimentos científicos sustentam e guiam o desenvolvimento tecnológico após 1850.

O cerne da transformação que estamos vivendo na revolução atual refere-se às tecnologias da informação, processamento e comunicação. A tecnologia da informação é para esta revolução o que as novas fontes de energia foram para as revoluções industriais sucessivas, do motor a vapor à eletricidade, aos combustíveis fósseis e até mesmo à energia nuclear, visto que a geração e distribuição de energia foi o elemento principal na base da sociedade industrial.

Tecnologias da informação – o conjunto convergente de tecnologias em microeletrônica, computação (software e hardware), telecomunicações/radiodifuão, e optoeletrônica. Também incluo engenharia genética. Isso deve-se ao fato de, nos anos 90, a biologia, a eletrônica e a informática parecerem estar convergindo e interagindo.

1ª Revolução Industrial – máquina a vapor.

2ª Revolução Industrial – eletricidade e produtos químicos.

3ª Revolução Industrial – durante a Segunda Guerra Mundial e no períodos seguinte: transistor, Circuito Integrado, chips, microprocessadores, eletrônica, computadores.

O contato entre civilizações de níveis tecnológicos diferentes freqüentemente provocava a destruição da menos desenvolvida ou daquelas que quase não aplicavam seus conhecimentos à tecnologia bélica.

A ascensão histórica do chamado Ocidente, limitando-se de fato à Inglaterra e a alguns países da Europa ocidental, bem como à América do Norte e À Austrália, está fundamentalmente associada à superioridade tecnológica alcançada durante as duas Revoluções Industriais.

Essa trajetória originou-se na Inglaterra. Porém, a segunda Revolução Industrial, mais dependente de novos conhecimentos científicos, mudou seu centro de gravidade para os EUA e Alemanha, que colheram as sementes que vingaram de sistemas educacionais e científicos, além da institucionalização dos direitos de propriedade.

A agricultura inglesa atendia três importantes funções: 1- aumentar a produção e a produtividade de modo a alimentar uma população não agrícola em rápido crescimento; 2- fornecer um grande e crescente excedente de recrutas em potencial para as cidades e indústrias; 3- fornecer um mecanismo para o acúmulo de capital a ser usado nos setores mais modernos da economia. Assim, construíram uma frota mercante, de facilidades portuárias, além de investirem em estradas e vias navegáveis. A política já estava engatada no lucro.

Era necessário um mercado mundial amplamente monopolizado por uma única nação produtora. Entre 1789 e 1848, a Europa e a América foram inundadas por especialistas, máquinas a vapor, maquinaria para algodão e investimentos britânicos.

Era um grande marco na história mundial. Pois desde a aurora dos tempos a Europa tinha sempre importado mais do Oriente do que exportado para lá.

Referência bibliográfica:

HOBSBAWM, Eric J. A era das revoluções. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006. 

A Herança Intelectual da Sociologia

APROFUNDAMENTO

A Herança Intelectual da Sociologia
Florestan Fernandes

A Sociologia não se limita ao estudo das condições de existência social dos seres humanos. Todavia, essa constitui a porção mais fascinante e importante de seu objeto. Ao se falar do homem como objeto de indagações, essas indagações começam a adquirir consistência científica no mundo moderno, graças à extensão dos princípios e do método da ciência à investigação das condições de existência social dos seres humanos. O homem sempre foi o principal objeto da curiosidade humana.

A Sociologia não se afirma primeiro como explicação científica e, somente depois, como forma cultural de concepção do mundo. Foi o inverso que se deu na realidade. Ela nasce e se desenvolve como um dos florescimentos intelectuais mais complicados das situações de existência nas modernas sociedades industriais e de classes. Conservadores, reformistas ou revolucionários, aspiravam fazer do conhecimento sociológico um instrumento da ação.

A Sociologia constitui um produto cultural das fermentações intelectuais provocadas pelas revoluções industriais e político-sociais, que abalaram o mundo ocidental moderno.

O desenvolvimento do sistema das ciências se tem processado sob duas ordens de fatores. Uma, de natureza especificamente positivo-racional, ligada com as exigências da própria marcha das investigações científicas. Outra, de natureza ultracientífica, constituída pelo conjunto das necessidades práticas (econômicas, culturais e sociais), que podem ou precisam ser satisfeitas, de modo direto ou indireto, mediante a descoberta ou utilização de conhecimentos científicos.

O melhor seria tentar compreender o espírito da “Sociologia do século XIX”. 1º) as relações de emergência da Sociologia com os efeitos intelectuais dos processos de secularização dos modos de conceber e de explicar o mundo; 2º) as repercussões das tendências de racionalização e dos movimentos sociais na delimitação do horizonte intelectual dos pioneiros ou dos fundadores da Sociologia; 3º) a natureza dos motivos e das ambições intelectuais, inerentes às primeiras tentativas de aproveitar os princípios do conhecimento científico na explicação da vida humana em sociedade.

A explicação sociológica exige, como requisito essencial, um estado de espírito que permita entender a vida em sociedade como estando submetida a uma ordem, produzida pelo próprio concurso das condições, fatores e produtos da vida social. Tal estado de espírito no mundo moderno se constitui graças à desagregação da sociedade feudal e à evolução do sistema capitalista de produção, com sua economia de mercado e a correspondente expansão das atividades urbanas. Estes processos histórico-sociais se desenrolaram de modo a ampliar atitudes secularizadas de apreciação dos móveis das ações humanas, do significado dos valores e da eficiência das instituições.

No plano puramente intelectual, a secularização dos modos de conceber e de explicar o mundo está relacionada com transformações radicais da mentalidade média. Alargamento do âmbito da percepção social além dos limites do que era sancionado pela Tradição, pela Religião ou pela Metafísica. Todo sujeito percebe o mundo exterior e as próprias tendências egotistas através de categorias de pensamento herdadas da sociedade em que vive. Qualquer análise de conduta, da sociedade ou do destino humano esbarra com o caráter “absoluto”, “inatingível” e “sagrado” das normas, dos valores e das instituições sociais, reconhecidos culturalmente. Nas condições de inquietação e instabilidade, ligadas À desagregação da sociedade medieval e à formação do mundo moderno, as inconsistências daquelas categorias absolutas e estáticas do pensamento se fizeram sentir com rapidez. Impunham-se tarefas que pressupunham novos padrões de apreciação axiológica, mais ou menos livres dos influxos da tradição ou de concepções providencialistas. Portanto, o que se poderia designar como consciência realista das condições de existência emerge e progride através de exigências de novas situações de vida, mais complexas e instáveis. Daí a capacidade de julgar, de decidir e de agir passa a depender, de modo crescente, do grau de consciência por ele alcançado sobre os móveis das ações dos outros ou os efeitos das possíveis alterações da estrutura e funcionamento das instituições.

A essa transformação básica do horizonte intelectual médio é preciso acrescentar outras duas conseqüências, a ela relacionadas. De um lado, as modificações que se produziram na natureza e nos alvos do conhecimento do senso comum; de outro, as inovações que se manifestaram no seio do pensamento racional sistemático. Na verdade, foi o conhecimento do senso comum que se expôs e teve de enfrentar as exigências mais profundas e imediatas das novas situações de existência social.

As repercussões da secularização dos modos de perceber e de explicar o mundo no pensamento racional sistemático são, entretanto, melhor conhecidas. Mas mesmo aqui o processo de transformação foi mais rápido nas esferas do pensamento racional vinculadas de modo imediato às situações práticas de existência, como se pode comprovar pelo confronto do Direito Positivo com o da Filosofia. Coube ao pensamento racional sistemático seja ordenar e dar expressão lógica às elaborações realmente significativas do conhecimento do senso comum, seja estender os critérios de explicação secular do mundo a objetos e a temas que não caem dentro dos limites da reflexão prática.

Em suma, aos efeitos do processo de secularização da cultura na modificação da mentalidade média, do conhecimento do senso comum e do pensamento racional sistemático devem-se a formação do ponto de vista sociológico, a noção de que a vida humana em sociedade está sujeita a uma ordem social e as primeiras tentativas de explicação realista dos fenômenos de convivência humana. As formas e natureza da ordem social, se tornaram demasiado variadas e complexas, a ponto de exigirem o recurso contínuo à investigação sistemática e a formação de uma disciplina intelectual específica. Tome-se Augusto Comte como referência. Sua indagações correspondiam a questões que não poderiam ser formuladas e respondidas no âmbito do conhecimento do senso comum ou da Filosofia pré-científica. O que é a ordem social? Como ela se constitui? Como ela se mantém? Como ela se transforma? Em outras palavras, com o aparecimento da Sociologia não só se amplia o sistema das ciências, como se descobrem meios intelectuais plenamente adequados às necessidades de desenvolvimento criador ou construtivo dos modos secularizados de perceber e explicar o mundo.

As repercussões das tendências de racionalização e dos movimentos sociais na delimitação do horizonte intelectual dos pioneiros e dos fundadores da Sociologia se fizeram sentir em dois planos distintos. No plano teórico, elas levaram à convicção de que as regularidades de coexistência e de sucessão, que permitem entender e explicar a ordem dos fenômenos nas manifestações da vida social, não possuem uma natureza rígida e mecânica. É certo que tal ordem foi descrita como algo que exclui tanto os influxos da providência, quanto o arbítrio dos indivíduos ou de grupos de indivíduos. Mas isso não impedia meios eficazes de intervenção. Estava-se na grande era do pensamento inventivo e do humanitarismo. Conservadores, liberais ou socialistas, todos se interessavam pelas descobertas das ciências, e por suas aplicações nas indústrias, nos serviços públicos e nas relações humanas. Daí 1°) o de descrever a ordem social como um sistema dotado de organização estrutural e funcional própria, cuja alteração interna se processaria através da operação de mecanismos inerentes à organização do sistema; 2º) o de descobrir as condições dentro das quais a atividade humana poderia tirar determinados proveitos da plasticidade relativa da ordem social, mediante o aproveitamento dos conhecimentos fornecidos pela análise dos referidos mecanismos de mudança social.

No plano prático, técnicas de manipulação ou de controle das situações de existência-social.

Quanto à natureza dos motivos e das ambições intelectuais, inerentes às primeiras tentativas de explicar a vida humana em sociedade de forma objetiva: eles eram antes filosóficos que científicos. O que se costuma chamar de ciências sociais, com referência aos Enciclopedistas, ou de Sociologia, em face de autores como Comte, Stuart Mill ou Spencer, é, propriamente falando, uma Filosofia da Ação Humana.

Filosofia da História, quando procura associar o presente ao passado e descobrir as “leis” do desenvolvimento do espírito humano. Ela se torna uma Filosofia Social, quando pretende evidenciar as funções “civilizadoras” da vida em sociedade, estabelecendo as primeiras vinculações dinâmicas, de sentido universal, da natureza humana com as situações de convivência social. Filosofia Política, quando liga, por meio da análise e da crítica dos sistemas políticos modernos, os resultados dos tipos de reflexão e de indagações filosóficas, a que poderiam conduzir a Filosofia da História e a Filosofia Social.

Vê-se, portanto, que a Filosofia da Ação Humana era coroada por uma Filosofia Política, em cuja base estavam uma Filosofia da História e uma Filosofia Social. O pensamento filosófico moderno se encaminhou da reflexão abstrata para a indagação empírica e para a análise indutiva.

Portanto, os móveis e as ambições intelectuais, que deram sentido e orientaram as investigações pioneiras no campo da Sociologia, possuíam natureza filosófica, ainda que esta fosse corrigida e ampliada pelas influências do pensamento científico. Isso não implica, porém, que se condene e rejeite, por “filosófica”, a Sociologia do século XIX. A constituição da Sociologia, como disciplina científica, seria inconcebível se aqueles motivos e ambições intelectuais, de natureza filosófica, não tivessem inspirado e dirigido as modernas indagações sobre a natureza humana e suas relações de existência social.

Primeiro, a transição do “ponto de vista normativo” para o “ponto de vista positivo”, na interpretação dos fenômenos sociais. Essa transição foi condicionada e impulsionada pela secularização dos modos de conceber e de explicar o mundo nas sociedades modernas. No que concerne à explicação da natureza humana, ela se processou, intelectualmente, pela transformação da antiga Metafísica em Filosofia da Ação Humana. E no seio desta que surgiu e se desenvolveu a tendência a considerar as situações sociais de existência através de instâncias empíricas, pelo recurso à análise indutiva e com um sério esforço para conter influências perceptíveis dos sentimentos, de idéias preconcebidas ou de valorizações etnocêntricas nas atividades cognitivas.

Segundo, a natureza humana só poderia ser conhecida e interpretada sociologicamente como parte de um sistema de relações com sentido, pois o comportamento dos seres humanos, individual ou coletivamente, é regulado por normas, valores e instituições sociais. Em conseqüência, a observação, a descrição e a interpretação da vida social humana exigem categorias de pensamento especiais, que não podiam ser tomadas ao conhecimento físico do mundo exterior, voltado para um sistema de relações destituídas de sentido. Os conceitos e a explicação científica das atividades sociais humanas são delimitados, formalmente, pelo universo empírico de sentido a que se referem.

A Filosofia da Ação Humana não serviu, apenas, de veículo à introdução do espírito científico no estudo da vida social humana. Ela própria representa uma fase construtiva do desenvolvimento da Sociologia.



Vocabulário:

Axiológico - que constitui ou diz respeito a um valor.

Cognitivo - relativo ao conhecimento, à cognição.

Empírico - baseado na experiência e na observação, metódicas ou não.

Etnocentrismo - visão de mundo característica de quem considera o seu grupo étnico, nação ou nacionalidade socialmente mais importante do que os demais.

Metafísica - investigação das realidades que transcendem a experiência sensível.

Secularização – transformação ou passagem de coisas, fatos, pessoas, crenças e instituições, que estavam sob o domínio religioso, para o regime leigo.



Referência bibliográfica:

FORACCHI, M. M.; MARTINS, J. de S. Sociologia e sociedade. Rio de Janeiro: LTC, 2004.

O SURGIMENTO

A dupla revolução – a industrial e a francesa – foi o processo da instalação definitiva da sociedade capitalista. A palavra sociologia apareceria por volta de 1830.

A revolução industrial significou algo mais do que introdução da máquina a vapor. Ela representou o triunfo da indústria capitalista, capitaneada pelo empresário capitalista que foi pouco a pouco concentrando as máquinas, as terras e as ferramentas sob o seu controle, convertendo grandes massas humanas em simples trabalhadores despossuídos.

A utilização da máquina destruiu o artesão. Este foi submetido a uma severa disciplina, a novas formas de conduta e de relações de trabalho.

Entre 1780 e 1860, a Inglaterra com uma população rural dispersa, passou a comportar enormes cidades. A sociedade se industrializava e urbanizava, implicando a reordenação da sociedade rural, a destruição da servidão, o desmantelamento da família patriarcal etc. O trabalho fabril engajou mulheres e crianças em jornadas de trabalho de pelo menos doze horas, sem férias e feriados, ganhando um salário de subsistência e inferior ao dos homens.

Essas cidades passavam por um vertiginoso crescimento demográfico, sem possuir, no entanto, uma estrutura de moradias, de serviços sanitários, de saúde etc. Consequências: aumento assustador da prostituição, do suicídio, do alcoolismo, do infanticídio, da criminalidade, da violência, de surtos de epidemia de tifo e cólera que dizimaram parte da população etc.

As manifestações de revoltas dos trabalhadores atravessaram diversas fases, como a destruição de máquinas, atos de sabotagem e explosão de algumas oficinas, roubos e crimes, evoluindo para as associações livres, formação de sindicatos etc. Nesta trajetória iam produzindo seus jornais, sua própria literatura.

Pensadores como Owen (1771 – 1858), William Thompson (1775 – 1833), Jeremy Bentham (1748 – 1832) procuraram dar uma resposta intelectual à nova situação da revolução industrial: situação da classe trabalhadora, o surgimento da cidade industrial, as transformações tecnológicas, a organização do trabalho na fábrica etc.

Renunciando a uma visão sobrenatural para explicar os fatos substituindo-a por uma indagação racional. A aplicação da observação e da experimentação.

Para Francis Bacon (1561-1626), a teologia deixaria de ser a forma norteadora do pensamento. A autoridade deveria ceder lugar a uma dúvida metódica.

O emprego sistemático da razão, do livre exame da realidade – traço que caracterizava os pensadores do século XVII, os chamados racionalistas – representou um grande avanço para libertar o conhecimento da “revelação”. Uma nova atitude intelectual diante dos fenômenos da natureza e da cultura.

O progressivo abandono da autoridade, do dogmatismo e de uma concepção providencialista, enquanto atitudes intelectuais para analisar a realidade.

Evitar conjecturas e especulações. É a indução, e não a dedução, que nos revela a natureza do mundo.

Os iluministas, enquanto ideólogos da burguesia, que nesta época posicionava-se de forma revolucionária, atacaram com veemência os fundamentos da sociedade feudal, os privilégios de sua classe dominante e as restrições que esta impunha aos interesses econômicos e políticos da burguesia.

Os iluministas partiram dos seus antecessores do século XVII, como Descartes, Bacon, Hobbes e outros, reelaborando, porém, algumas de suas idéias e procedimentos. Ao invés de utilizar a dedução, como a maioria dos pensadores do século XVII, os iluministas insistiam numa explicação da realidade baseada no modelo das ciências da natureza. Nesse sentido, eram influenciados mais por Newton, com seu modelo de conhecimento baseado na observação, na experimentação e na acumulação de dados, do que por Descartes, com seu método de investigação baseado na dedução.

O objetivo dos iluministas, ao estudar as instituições de sua época, era demonstrar que elas eram irracionais e injustas, que atentavam contra a natureza dos indivíduos e, nesse sentido, impediam a liberdade do homem. Concebiam o indivíduo como dotado de razão, possuindo uma perfeição inata e destinado à liberdade e à igualdade social.

Os iluministas vislumbravam outras possibilidades de existência social além das existentes.

Esta crescente racionalização da vida social, não era, porém, um privilégio dos filósofos. O “homem comum” dessa época também deixava, cada vez mais, de encarar as instituições sociais, as normas, como fenômenos sagrados e imutáveis, submetidos a forças sobrenaturais, passando a percebê-las como produtos da atividade humana.

A crítica às instituições feudais levada a cabo pelos iluministas constituía indisfarçável indício da virulência da luta que a burguesia travava no plano político contra as classes que sustentavam a dominação feudal. Esta camada privilegiada não apenas gozava de isenção de impostos e possuía direitos para receber tributos feudais, mas impedia ao mesmo tempo a constituição da livre empresa, a exploração eficiente da terra.

A burguesia, ao tomar o poder em 1789, investiu contra a sociedade feudal, procurando construir um Estado que assegurasse sua autonomia em face da Igreja.

Durkheim, um dos fundadores da sociologia, Saint-Simon, Comte, utilizarão expressões como “anarquia”, “perturbação”, “crise”, “desordem”, para julgar a nova realidade provocada pela revolução. Nutriam certo rancor pela revolução, pela importância conferida ao indivíduo em face das instituições existentes.

A tarefa que esses pensadores se propõem é a de racionalizar a nova ordem, conhecer as leis que regem os fatos sociais, instituindo portanto uma ciência da sociedade.

A verdade é que a burguesia, uma vez instalada no poder, se assusta com a própria revolução. Uma das facções revolucionárias, os jacobinos, estava disposta a aprofundá-la. Seria necessário, de acordo com os interesses da burguesia, controlar e neutralizar novos levantes revolucionários.

A França, no início do século XIX, ia se tornando visivelmente uma sociedade industrial. Repetem-se determinadas situações sociais vividas na Inglaterra no início de sua revolução industrial. Eram visíveis, a essa época, a utilização intensiva do trabalho barato de mulheres e crianças, uma desordenada migração do campo para a cidade, gerando problemas de habitação, de higiene, aumento de alcoolismo e da prostituição, alta taxa de mortalidade infantil etc.

Tentando instaurar um estado de equilíbrio numa sociedade cindida pelos conflitos de classe, a sociologia inicial revestiu-se de um indisfarçável conteúdo estabilizador, ligando-se aos movimentos de reforma conservadora da sociedade.
Referência bibliográfica:
MARTINS, Carlos B. O que é sociologia. São Paulo: Brasiliense, 1994

Questão:


1) Tendo em vista o contexto histórico do surgimento da sociologia, cite as influências necessárias para o nascimento desta disciplina.







quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

CONHECIMENTO CIENTÍFICO II

APROFUNDAMENTO

A ciência nada mais é do que o senso comum refinado e disciplinadoG. Myrdal
CIÊNCIA E SENSO COMUM I
A ciência é uma especialização, um refinamento de potenciais. Ela é a hipertrofia de capacidades que todos têm. Quanto maior a visão em profundidade, menor a visão em extensão. A tendência da especialização é conhecer cada vez mais de cada vez menos.
Senso comum é aquilo que não é ciência. Para aqueles que teriam a tendência de achar que o senso comum é inferior à ciência, eu só gostaria de lembrar que, por dezenas de milhares de anos, os homens sobreviveram sem coisa alguma que se assemelhasse à nossa ciência.

CIÊNCIA E SENSO COMUM II

O defeito é que faz a gente pensar. O que não é problemático não é pensado. A gente pensa porque as coisas não vão bem – alguma coisa incomoda. Quando tudo vai bem, a gente não pensa, mas simplesmente goza e usufrui... O pensamento pode simular o real. Quando um cientista enuncia uma lei ou uma teoria, ele está oferecendo um modelo da ordem. O problema é exatamente construir uma ordem ainda invisível de uma desordem visível e imediata. Só nos entregamos a problemas que julgamos poder resolver com os recursos de que dispomos. A observação sugere, mas não dá resposta. É necessário imaginação.

Enunciar com clareza o problema é indicar, antes de mais nada, de que partes ele se compões. É a este procedimento que se dá o nome de análise. O mecânico que desmonta o motor está envolvido em análise: separando cada e todas as partes, uma a uma.

O místico crê num Deus desconhecido. O pensador e o cientista crêem numa ordem desconhecida. É difícil dizer qual deles sobrepuja o outro em sua devoção não-racionalL. L. Whyte

Não se pode negar, por outro lado, que o senso comum e a ciência nos apresentam visões de ordem muito diferentes uma da outra. Sua ordem pessoal é profundamente marcada por preferências, emoções, valores. A ciência, desde seus primórdios, tratou de inventar métodos para impedir que os desejos corrompessem o conhecimento objetivo da realidade.

É a ciência e não o senso comum que parece ser o mais absurdo.

É um paradoxo que a Terra se mova ao redor do Sol e que a água seja constituída de dois gases altamente inflamáveis. A verdade científica é sempre um paradoxo, se julgada pela experiência cotidiana, que apenas capta a aparência efêmera das coisas” (K. Marx)

toda ciência seria supérflua se a aparência, a forma das coisas fosse totalmente idêntica à sua natureza” (Marx, O Capital, v. III [1894], p. 951).

Referência bibliográfica:
ALVES, Rubem. Filosofia da ciência. São Paulo: Loyola, 2000.

CONHECIMENTO CIENTÍFICO I

Todas as pessoas conhecem certos fatos, mesmo sem ter estudado ciência. Esses conhecimentos são familiares ao senso comum. A diferença entre senso comum e conhecimento científico não tem sua origem nos fatos ou objetos que as pessoas estudam. As características que fixam a fronteira entre o conhecimento científico e o senso comum estão relacionadas com a maneira de conhecer ou de justificar o conhecimento. O traço que marca a diferença entre o cientista e o não cientista é o processo de obtenção, justificação e transmissão do conhecimento.

O primeiro passo da pesquisa científica é a observação. A observação dos fenômenos precisa ser registrada. O cientista deve selecionar os dados que pareçam relevantes para sua pesquisa. Mas a ciência não é simples procura de dados. O cientista visa formular leis e organizar leis em teorias.
Depois de um grande conjunto de observações, o cientista por indução, elabora uma conjectura, chamada hipótese. Uma hipótese aceita é a hipótese que, seja porque foi fortemente testada, seja porque está apoiada em outras informações, tem uma grande chance de ser verdadeira.

As hipóteses verdadeiras chamam-se leis científicas. As leis constituem o “coração” das teorias científicas. Elas servem para explicar por que acontecem certos fatos e para predizer fenômenos futuros.
As teorias podem ser consideradas como conjuntos de leis científicas. Tendo em conta que essas leis estão ordenadas e organizadas interiormente, diremos que as teorias são sistemas de leis.

A ciência se divide em ciências factuais (naturais e humanas) e ciências abstratas (matemática e lógica).
As chamadas “ciências abstratas” são diferentes das ciências factuais (naturais ou humanas), porque os objetos com os quais trabalham não são entidades do mundo real, que possamos perceber através dos sentidos. Elas não trabalham com fatos (é por isso que não são factuais). Trabalham com idéias. Quase todos os cientistas aceitam que a matemática é uma ciência. Porém ela não depende da experiência.

O cientista factual usa, como fonte de conhecimento, dados reais, eventos do mundo físico, biológico ou cultural. Essa necessidade de experiência é responsável pelo fato de as ciências naturais e humanas serem também chamadas “ciências empíricas”.
As ciências factuais, por sua vez, dividem-se em naturais e humanas. Nas ciências humanas, a condição especial do homem tem um destaque inexistente nas ciências naturais. As ciências naturais são a física, a química, a biologia, a geologia, a astronomia e algumas outras. Enquanto as ciências humanas seriam a história, a antropologia, a psicologia, a lingüística, a economia, a ciência política, e assim por diante.

Referência bibliográfica:
LUNGARZO, Carlos. O que é ciência. Brasiliense.
(CONTINUA)
Questão:
1 - Existem diversas formas de conhecimento: senso comum, religião, artes, filosofia, ciência etc. O que faz da ciência uma forma distinta de conhecimento?

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

SOCIOLOGIA: DO QUE SE TRATA.

Conhecimentos sociológicos são importantes para qualquer pessoa envolvida com ação na sociedade. Entretanto, tal ação não precisa ser particularmente humanitária. Em suma, “trabalhar com pessoas” pode significar retirá-las das favelas ou metê-las na cadeia.

Outra imagem do sociólogo é a do teórico do serviço social. O serviço social constitui uma certa ação na sociedade. A sociologia não é uma ação, e sim uma tentativa de compreensão. É evidente que essa compreensão pode ser de utilidade para quem age.

Ainda outra imagem é a do sociólogo como coletor de estatística sobre comportamento humano. Ele sai à rua com um questionário, entrevista pessoas colhidas ao acaso, volta para casa, registra suas verificações numa reiteração formalista daquilo que todo mundo já sabe. Por si só, dados estatísticos não constituem sociologia. Só se tornam sociologia quando sociologicamente interpretados, quando situados dentro de um quadro teórico de referência que seja sociológico.

Finalmente, há a imagem do sociólogo que diz respeito não à sua função profissional, mas sobretudo ao fato de ele ser, supostamente, um determinado tipo de pessoa. O sociólogo como um observador impessoal, um frio manipulador de homens, buscando prazer não em viver, e sim em avaliar as vidas alheias, classificando-as em categorias mesquinhas, e assim presumivelmente deixando de apreender o significado real daquilo que observa.

Como então devemos conceber o sociólogo? O sociólogo, então, é uma pessoa que se ocupa de compreender a sociedade de uma maneira disciplinada. Essa atividade tem uma natureza científica. Isto significa que estuda dentro de um certo quadro de referência de limites rigorosos, executando operações que obedecem a certas regras de verificação. Como cientista o sociólogo tenta ser objetivo, controlar suas preferências e preconceitos pessoais, perceber claramente ao invés de julgar normativamente. É claro que restrição não atinge a totalidade da existência do sociólogo como ser humano, limitando-se ás suas operações enquanto sociólogo.

O fascínio da sociologia está no fato de que sua perspectiva nos leva a ver sob nova luz o próprio mundo em que todos vivemos. Isto também constitui uma transformação da consciência. O astrônomo não vive nas galáxias distantes e, fora de seu laboratório, o físico nuclear pode comer. O sociólogo, porém, vive na sociedade, tanto em seu trabalho como fora dele. Sua própria vida, inevitavelmente, converte-se em parte de seu campo de estudo.

As pessoas que preferem o mundo aceito sem discussões devem manter-se longe da sociologia. Uma palavra de advertência também deve ser endereçada àquelas pessoas que só se interessam pelos seres humanos caso possam modificá-los, convertê-los ou reformá-los; acharão a sociologia muito menos útil do que esperavam. A sociologia só será satisfatória para quem não puder imaginar nada mais absorvente do que observar os seres humanos e compreender as coisas humanas.

A rigor, a sociologia é um passatempo individual no sentido que interessa a algumas pessoas e entedia outras.
Referência bibliográfica:
BERGER, Peter. Perspectivas sociológicas. Petrópolis: Vozes, 2004.
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Questões:
1 - De acordo com o texto acima, a sociologia pode ser entendida como:

a) Ação humanitária.
b) Programa de reforma social.
c) Levantamento de dados para classificação.
d) Tentativa de compreensão da sociedade.

2 - “Como cientista o sociólogo tenta ser objetivo, controlar suas preferências e preconceitos pessoais, perceber claramente ao invés de julgar normativamente”. Tendo em vista o texto em geral e o trecho acima em específico, podemos concluir que:

a) A ciência é uma referência para nosso comportamento ético.
b) O progresso científico nos diz como devemos viver e o que devemos fazer.
c) Na ciência, juízos de valor comprometem a compreensão integral dos fatos.
d) A investigação científica deve atender à interesses comerciais e à melhoria de vida das pessoas.

"Com efeito, uma coisa é tomar uma posição política prática, e outra coisa é analisar cientificamente as estruturas políticas e as doutrinas dos partidos" (Max Weber).