A dupla revolução – a industrial e a francesa – foi o processo da instalação definitiva da sociedade capitalista. A palavra sociologia apareceria por volta de 1830.
A revolução industrial significou algo mais do que introdução da máquina a vapor. Ela representou o triunfo da indústria capitalista, capitaneada pelo empresário capitalista que foi pouco a pouco concentrando as máquinas, as terras e as ferramentas sob o seu controle, convertendo grandes massas humanas em simples trabalhadores despossuídos.
A utilização da máquina destruiu o artesão. Este foi submetido a uma severa disciplina, a novas formas de conduta e de relações de trabalho.
Entre 1780 e 1860, a Inglaterra com uma população rural dispersa, passou a comportar enormes cidades. A sociedade se industrializava e urbanizava, implicando a reordenação da sociedade rural, a destruição da servidão, o desmantelamento da família patriarcal etc. O trabalho fabril engajou mulheres e crianças em jornadas de trabalho de pelo menos doze horas, sem férias e feriados, ganhando um salário de subsistência e inferior ao dos homens.
Essas cidades passavam por um vertiginoso crescimento demográfico, sem possuir, no entanto, uma estrutura de moradias, de serviços sanitários, de saúde etc. Consequências: aumento assustador da prostituição, do suicídio, do alcoolismo, do infanticídio, da criminalidade, da violência, de surtos de epidemia de tifo e cólera que dizimaram parte da população etc.
As manifestações de revoltas dos trabalhadores atravessaram diversas fases, como a destruição de máquinas, atos de sabotagem e explosão de algumas oficinas, roubos e crimes, evoluindo para as associações livres, formação de sindicatos etc. Nesta trajetória iam produzindo seus jornais, sua própria literatura.
Pensadores como Owen (1771 – 1858), William Thompson (1775 – 1833), Jeremy Bentham (1748 – 1832) procuraram dar uma resposta intelectual à nova situação da revolução industrial: situação da classe trabalhadora, o surgimento da cidade industrial, as transformações tecnológicas, a organização do trabalho na fábrica etc.
Renunciando a uma visão sobrenatural para explicar os fatos substituindo-a por uma indagação racional. A aplicação da observação e da experimentação.
Para Francis Bacon (1561-1626), a teologia deixaria de ser a forma norteadora do pensamento. A autoridade deveria ceder lugar a uma dúvida metódica.
O emprego sistemático da razão, do livre exame da realidade – traço que caracterizava os pensadores do século XVII, os chamados racionalistas – representou um grande avanço para libertar o conhecimento da “revelação”. Uma nova atitude intelectual diante dos fenômenos da natureza e da cultura.
O progressivo abandono da autoridade, do dogmatismo e de uma concepção providencialista, enquanto atitudes intelectuais para analisar a realidade.
Evitar conjecturas e especulações. É a indução, e não a dedução, que nos revela a natureza do mundo.
Os iluministas, enquanto ideólogos da burguesia, que nesta época posicionava-se de forma revolucionária, atacaram com veemência os fundamentos da sociedade feudal, os privilégios de sua classe dominante e as restrições que esta impunha aos interesses econômicos e políticos da burguesia.
Os iluministas partiram dos seus antecessores do século XVII, como Descartes, Bacon, Hobbes e outros, reelaborando, porém, algumas de suas idéias e procedimentos. Ao invés de utilizar a dedução, como a maioria dos pensadores do século XVII, os iluministas insistiam numa explicação da realidade baseada no modelo das ciências da natureza. Nesse sentido, eram influenciados mais por Newton, com seu modelo de conhecimento baseado na observação, na experimentação e na acumulação de dados, do que por Descartes, com seu método de investigação baseado na dedução.
O objetivo dos iluministas, ao estudar as instituições de sua época, era demonstrar que elas eram irracionais e injustas, que atentavam contra a natureza dos indivíduos e, nesse sentido, impediam a liberdade do homem. Concebiam o indivíduo como dotado de razão, possuindo uma perfeição inata e destinado à liberdade e à igualdade social.
Os iluministas vislumbravam outras possibilidades de existência social além das existentes.
Esta crescente racionalização da vida social, não era, porém, um privilégio dos filósofos. O “homem comum” dessa época também deixava, cada vez mais, de encarar as instituições sociais, as normas, como fenômenos sagrados e imutáveis, submetidos a forças sobrenaturais, passando a percebê-las como produtos da atividade humana.
A crítica às instituições feudais levada a cabo pelos iluministas constituía indisfarçável indício da virulência da luta que a burguesia travava no plano político contra as classes que sustentavam a dominação feudal. Esta camada privilegiada não apenas gozava de isenção de impostos e possuía direitos para receber tributos feudais, mas impedia ao mesmo tempo a constituição da livre empresa, a exploração eficiente da terra.
A burguesia, ao tomar o poder em 1789, investiu contra a sociedade feudal, procurando construir um Estado que assegurasse sua autonomia em face da Igreja.
Durkheim, um dos fundadores da sociologia, Saint-Simon, Comte, utilizarão expressões como “anarquia”, “perturbação”, “crise”, “desordem”, para julgar a nova realidade provocada pela revolução. Nutriam certo rancor pela revolução, pela importância conferida ao indivíduo em face das instituições existentes.
A tarefa que esses pensadores se propõem é a de racionalizar a nova ordem, conhecer as leis que regem os fatos sociais, instituindo portanto uma ciência da sociedade.
A verdade é que a burguesia, uma vez instalada no poder, se assusta com a própria revolução. Uma das facções revolucionárias, os jacobinos, estava disposta a aprofundá-la. Seria necessário, de acordo com os interesses da burguesia, controlar e neutralizar novos levantes revolucionários.
A França, no início do século XIX, ia se tornando visivelmente uma sociedade industrial. Repetem-se determinadas situações sociais vividas na Inglaterra no início de sua revolução industrial. Eram visíveis, a essa época, a utilização intensiva do trabalho barato de mulheres e crianças, uma desordenada migração do campo para a cidade, gerando problemas de habitação, de higiene, aumento de alcoolismo e da prostituição, alta taxa de mortalidade infantil etc.
Tentando instaurar um estado de equilíbrio numa sociedade cindida pelos conflitos de classe, a sociologia inicial revestiu-se de um indisfarçável conteúdo estabilizador, ligando-se aos movimentos de reforma conservadora da sociedade.
Referência bibliográfica:
MARTINS, Carlos B. O que é sociologia. São Paulo: Brasiliense, 1994
Questão:
1) Tendo em vista o contexto histórico do surgimento da sociologia, cite as influências necessárias para o nascimento desta disciplina.
1) Tendo em vista o contexto histórico do surgimento da sociologia, cite as influências necessárias para o nascimento desta disciplina.
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